nisso, Felipe Nery de
Carvalho deverá também ser tratado como um aristocrata de um tempo em
transição. Tudo que se queira relatar sobre ele e sua esposa a baronesa de
serra branca, nascida Belizária Lins Wanderley em 1836, parece sempre nos
remeter a um passado de desenvolvimento, mas de progresso limitado.
Já um pouco antes da
assinatura da Lei-Aurea esta decente senhora libertou seus cativos, isto é fato
narrado, de todos conhecido.
O final do século 19
foi marcado por uma retomada dos valores da imaginação positiva, ondas de renovação
social varrem também toda opressão do novo continente, a procurar novas
revoluções no campo das ideias. Realçando as formas de convivência.
E foi também esta
Belizária uma sensível mulher, seu baú de lembranças pessoais guardava cartas
de amigas afetuosas, admiradoras de suas prendas para as artes manuais e
atenciosas para com a curiosidade natural dessa amiga ávida por notícias do
mundo.
Tenho ainda na
lembrança, era já 1987 e pude sentir este depositário de suaves caprichos tão
femininos e universais. Muitas marcações de cartão para as rendas com ingênuos
motivos de pássaros e flores, vidros de fragrâncias perdidas com o passar dos
anos, o caderno das primeiras letras caligrafadas do seu filho adotivo Silvestre
(repare no nome, aluda.), uma foto dele guardada numa trabalhada caixinha de
madeira, algumas cartas que ele mandava para o pai do Rio de Janeiro onde
estudava. Tinha gravatas do marido, travesseiros pequenos de seda bordados e
cheios com plumas, mimos, souvenirs de seus fatos e até chumaços de cabelos,
talvez dessas próprias cabeças.
Também o tempo
escolhe. Aquele baú/obra de engenho minucioso, peça de arte conceitual, mesmo
túmulo de cultura individual sedimentada estava na calçada, expulso de seu
sobrado onde ficou tantas décadas exilado e guardado e, foi em parte tragado
pelos bichos, teve outra parte destinada a saqueadores como eu e outra parte,
quem sabe maior, devorada pelas chamas do acaso, virado lixo decerto.
Em tudo isso, na
balança o peso da arte não engana. Vejo aquela mulher acumulando sua existência
naquela mala de couro broxado, lembro do desenrolar dos fatos cruciais de sua
época, relembro Emily Dickinson e suas notas enigmáticas, João Lins Caldas e
suas centenas de livros perdidos, Marcel Duchamp e seu museo de acasos, alio
tudo as novas tecnologias de mensagem para o trato criativo e sei, a memória é
uma coisa do futuro e besta é a soberba. A arte é uma charada dos homens e não
se engane, a arte é para todos. Vejam.
sic...
Felipe Nery de Carvalho e Silva - agraciado com o título ( Dec
19.08.1888, Princesa Isabel) de Barão de Serra Branca. Nasceu
em 02.05.1829 em Santana do Matos - RN e faleceu em 16.06.1893,
nos arredores da cidade de Caicó-RN, vindo de uma viagem a Juazeiro do
Norte-CE, onde visitara o Padre Cícero. Está sepultado no cemitério da cidade de
Assu-RN. Filho de Antônio da Silva de Carvalho ( nascido a
13.01.1784 e fal. a 09.08.1877 ) e de Maria da Silva Velozo (nasc 23.12.1799 e
fal. 18.05.1870), casados em 26.02.1827. Como político, financiava
eleições e foi eleito Deputado Provincial por duas vezes, nos biênios
de 1878-79 e 1880-81. Tenente Coronel da Guarda Nacional. Abolicionista
legítimo, libertando todos os seus escravos sem qualquer condição no dia 30 de
março de 1880. Casou-se com Belizária Wanderlei, Baronesa de Serra
Branca, nascida a 13.10.1836 em Assu-RN e falecida a 13.04.1933
em Natal-RN, filha do Cel. Manoel Lins Wanderlei e de Dona Maria
Francisca da Trindade.O casal não teve descendentes. Ainda sobre o Barão
de Serra Branca.Era o tipo tradicional do patriarca risonho. Contava o meu
bisavô do colaborador Lauro Antonio Bezerra de Assunção que ele costumava se
sentar e reunir ao seu redor todos os escravinhos pequenos para que ele tocasse
e cantasse para a alegria de todos. Em 19 de agosto de 1888, a Princesa Regente
D. Isabel, assinou o decreto fazendo de Felipe Néri de Carvalho e Silva, Barão
de Serra Branca, no Gabinete Ministerial do Conselheiro João Alfredo. Prestando
o seu juramento no dia 24 de outubro de 1888.
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